Como é trabalhar em Angola

Por Alisson Nogueira – alisson.nogueira@brainit.com.br

Não costumo enviar muitos e-mails, mas li o convite sobre as experiências de outras pessoas trabalhando no exterior e gostaria de compartilhar como foi a minha rapidamente.

Trabalhei em Angola de Julho de 2002 ao final de Dezembro de 2003. Quando fui convidado para ir a Angola, trabalhava na KBR no projeto Barracuda e Caratinga na área de TI, como administrador de sistemas. Tinha 22 anos e fui convidado para ser o coordenador da equipe de TI em Angola. Muitos disseram que era loucura pois Angola tinha acabado de sair de uma guerra civil e não havia muita certeza se a guerra tinha realmente terminado de um vez por todas, e que eu era muito novo. Porém resolvi aceitar o desafio e realmente não me arrependo pois foi uma rica experiência.

Trabalhei para Halliburton mesmo em 3 lugares em Angola: Luanda, Soyo e Cabinda. Luanda é uma cidade com o trânsito caótico, com uma infra-estrutura na época ainda precária e ainda era bastante suja. Soyo fica no norte de Angola e foi o lugar mais pobre que eu já vi na minha vida. Várias ruas da cidade não tinham luz elétrica, a maioria das ruas era toda de terra e as pessoas viviam em condições realmente precárias. No alojamento que eu morava (dentro de uma base da Esso), havia um restaurante do tipo bandejão onde só se podia comer uma vez (pegue tudo que conseguir e não entre na fila de novo). Com isso eu via cenas que a primeira vista poderiam parecer engraçadas, mas que eram na verdade bastante tristes. Uma que não me esqueço foi a de um operário fazendo um prato tão alto que chegava a balançar, e neste mesmo prato havia a estranha mistura de frango com bolo de chocolate. Os bolsos estavam ainda lotados de pão e maçãs e me lembro de ter rido e de ter me arrependido logo em seguida, pois provavelmente aquela era a única refeição do dia que aquela pessoa estava tendo.

Quando trabalhei em Cabinda, que é um território angolano que fica fisicamente dentro do Congo, morava em uma base da ChevronTexaco onde não era permitido sair pois diziam que ainda havia um determinado risco por existir ainda um grupo de guerrilheiros que lutava pela independência de Cabinda. Em Cabinda fiz grandes amigos de vários lugares do mundo e a experiência foi bastante rica.

O que eu posso dizer dos angolanos é que eles são realmente muito amigáveis e que se identificam muito com os brasileiros. Temos várias similaridades culturais (inclusive a resistência ao planejamento e a existência do “jeitinho angolano”). Existem várias oportunidades em Angola e o país ainda se encontra em reconstrução. Existe uma forte tendência em “angolanizar” a mão de obra em grandes empresas multinacionais que lá estão, portanto isso poderia ser visto com uma barreira de entrada, porém temos o diferencial da língua ser a mesma e de termos a simpatia do povo angolano, que não é exatamente a mesma pelos portugueses.

Gostaria somente de acrescentar que o nível dos angolanos que trabalhavam comigo era muito bom. Todos falavam inglês e tinham fortes conhecimentos técnicos também.

Se alguém quiser mais detalhes sobre Angola, me escrevam. Abaixo algumas fotos de lá.

Forte abraço,

Alisson Nogueira – alisson.nogueira@brainit.com.br

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